Número de mulheres mortas homenageadas com ipês aumenta em Cuiabá a3v1h
O ato reforça a gravidade da violência de gênero no estado e marca um triste avanço em relação à ação anterior, realizada em março no Parque Tia Nair, na capital. 60623q
O replantio de mudas em homenagem a mulheres vítimas de feminicídio em Mato Grosso expõe uma triste realidade no estado. Nesta quinta-feira (5), foram replantadas 54 mudas de ipê roxo — que simbolizavam as vítimas de 2024 — e outras 11 novas foram incluídas, representando os casos registrados em 2025, até o mês de maio.
Ao todo, 65 ipês agora integram o Memorial no Parque da Família, em Cuiabá, como símbolos vivos da memória de mulheres que tiveram suas vidas interrompidas pela violência.
O ato reforça a gravidade da violência de gênero no estado e marca um avanço em relação à ação anterior, realizada em março no Parque Tia Nair, na capital.
Na ocasião, as mudas foram plantadas em uma área lateral do Tia Nair, mas precisaram ser retiradas após a Prefeitura de Cuiabá constatar que o local invadia cerca de 70 centímetros de uma propriedade particular.
Desde então, as árvores foram mantidas sob os cuidados do Horto Florestal Tote Garcia, aguardando definição de um novo espaço. Agora, replantadas em área definitiva e revitalizada, as árvores ganham ainda mais significado com a instalação da Placa do Memorial das Vítimas de Feminicídio em Mato Grosso.
O evento foi organizado pelo Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar do Ministério Público Estadual, em parceria com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a Secretaria da Mulher, a Limpurb, o Observatório Caliandra e movimentos sociais como o Até Quando MT.
Entre as famílias das vítimas homenageadas, uma das presentes no evento foi Rosângela Ferreira da Silva, mãe de Josiane Ferreira, assassinada aos 26 anos em outubro de 2024, no bairro Santa Rosa, em Cuiabá. A filha foi morta pelo companheiro durante um ataque com faca.
“Ela teve a vida ceifada por alguém que nunca a amou. Só queria usá-la. Ficou eu e meus netos. A saudade é imensa. Chamo muito por ela e luto para que minhas netas não sejam arrancadas de mim”, disse Rosângela.
Em sua fala, a vereadora Michele Alencar lembrou a tragédia por trás do aumento de mudas:
“Da primeira vez eram 54. Agora são 65. Cada nome aqui representa uma vida que não existe mais. Isso dói. Mas essas árvores vão florescer. Vão trazer sombra, beleza e memória. Elas não podem ser esquecidas”, reforçou.
A vereadora Maisa Leão destacou a importância do ato como mais do que uma ação ambiental e também fez referência à trajetória de mulheres que construíram o movimento contra o feminicídio no estado:
“Cuiabá precisa de ações ambientais, mas esta é uma ação de memória. É um dia muito emblemático para nós, principalmente para quem está na rede há muito tempo. Todos os caminhos que elas abriram, assim como os das que não estão mais conosco. Estivemos de mãos dadas, chorando dores… e seguimos juntas. Já estivemos em praças, em ruas… agora estamos no parque”, destacou.
“Quero que todas as mulheres que tem esse problema venham nos procurar. Nós estamos com as portas abertas de segunda a segunda, 24 horas do dia”, ressaltou o delegado de Polícia Richard Damasceno, coordenador do Plantão de Atendimento a Vítima de Violência Doméstica e Sexual de Cuiabá.
