Prosperidade ou justiça, o que queremos para 2023? 6p5f2v
Todos nós veremos nos jornais qual foi a valorização da Bolsa de Valores no ano de 2022, qual foi o crescimento do PIB do Brasil e quais as projeções para 2023. Esses números retratam a prosperidade econômica, mas eles não dizem muito sobre os 62 milhões de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza no Brasil, segundo o IBGE. Por isso, a pergunta do título é uma provocação: prosperidade ou justiça, o que queremos para 2023?

Em 1971 um professor da Havard chamado John Rawls publicou o livro “Teoria da Justiça”, que verdadeiramente revigorou a discussão entre os cientistas políticos, filósofos e economistas de todo o mundo sobre como deve ser uma sociedade justa. Nesse livro ele propõe um exercício de imaginação bastante interessante, que vou adaptar aqui para não estender demais o texto.
Imagine que você ainda não nasceu e que sua “alma” está numa enorme sala branca, junto com todas as demais “almas” que irão nascer, participando de uma reunião na qual irão decidir como serão as leis que comandarão a sociedade que em breve vão morar. Só que você não sabe nada sobre você nem sobre as circunstâncias da sua vida. Assim, não sabe se vai ter um corpo com pele branca ou preta, se vai nascer homem ou mulher, se sua família será rica ou pobre, se vai morar num bairro nobre ou na comunidade, se você vai ser patrão ou empregado, se vai nascer com plena saúde ou com alguma necessidade especial, intelectual ou física.
Segundo o professor, sob esse véu de ignorância, sem saber onde vai nascer e quais serão as condições da sua vida, a tendência é que você primeiramente decida criar as leis que garantam as liberdades básicas de uma sociedade democrática e capitalista, inclusive a liberdade de empreender. Em segundo lugar, você deverá criar um esquema de proteção para os grupos de pessoas menos favorecidas, afinal de contas você pode ser uma delas.
Por isso, sem saber onde vão nascer, as pessoas escolheriam um conjunto de leis que organizasse as desigualdades sociais, para que nenhum grupo menos favorecido fosse abandonado à própria sorte. Esse conjunto de leis garantiria que o aumento da melhoria de vida dos grupos sociais do topo da pirâmide da renda e riqueza estaria justificado se proporcionasse um aumento da melhoria de vida dos grupos menos favorecidos.
Num resumo, uma sociedade justa deveria partir da garantia de uma liberdade igual a todos para, em seguida, o tratamento das desigualdades sociais, de modo a garantir que os grupos menos favorecidos fossem efetivamente beneficiados pela prosperidade econômica.
Por exemplo, o sistema de cotas raciais para o à universidade pública, inaugurado em 2012, pretendeu “corrigir”, ou pelo menos amenizar, desvantagem de se nascer negro no Brasil, e tudo que isso significa em termos de oportunidades.
O que o exercício nos provoca é uma certa perplexidade por saber que nós, por interesse próprio, protegeríamos os grupos sociais menos favorecidos se houvesse uma chance de pertencermos a algum deles. Não apenas os grupos menos favorecidos economicamente, mas também os grupos sociais menos reconhecidos simbolicamente, como os negros, as mulheres e as pessoas lgbtqia+.
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E aqui é o ponto do texto em que revisitamos a pergunta do título: prosperidade ou justiça, o que queremos em 2023? Queremos, na verdade, prosperidade e justiça! Queremos que o desenvolvimento econômico signifique também mais oportunidade de emprego formal para os trabalhadores, menos moradores de rua, menos feminicídios, menos discriminação racial, de gênero ou orientação sexual e até mesmo, se não for querer demais, uma menor desigualdade de renda entre o 1% de brasileiros mais ricos e os 99% restantes.
Celebremos, então, a esperança de um Brasil mais próspero e mais justo para 2023!