Comunicação sem racismo 4v6u6s
A linguagem que usamos pode combater ou perpetuar preconceitos 6k4yw
O Dia da Consciência Negra (20 de novembro) está chegando e, especialmente nessa época do ano, ganham força os debates sobre como combater o racismo no Brasil, um país onde grande parte da população tem raízes africanas.
Mesmo com avanços na legislação, já que racismo e injúria racial atualmente são considerados crimes, situações de preconceito continuam frequentes. A luta contra essa triste herança do período da escravidão precisa ocorrer em diversas frentes, entre elas, por meio da educação e da comunicação.
A jornalista e escritora Neusa Baptista Pinto, de Cuiabá (MT), acredita que estamos ainda longe de eliminar o racismo, já que ele está enraizado na nossa estrutura social. Ela é autora do livro “Cabelo Ruim?”, lançado em 2007, fruto do “Projeto Pixaim: nem bom nem ruim, só diferente”, de estímulo à valorização do cabelo crespo entre crianças da periferia da capital mato-grossense.

“Cabelo de Bombril!”, “cabelo de vassoura”, “pixaim!”. Neusa lembra que essas e outras expressões pejorativas referentes ao cabelo crespo são comuns no ambiente escolar. E uma piada deste tipo está no centro da história narrada no livro “Cabelo Ruim?”, que mostra três meninas aprendendo a se aceitar. O livro foi adotado como material paradidático em vários estados do país, foi adaptado para o teatro e virou revista em quadrinhos.
Mesmo com todo o alcance de seu livro, Neusa Baptista afirma que ainda há resistência, até em escolas, para discutir o racismo. A escritora acredita que o debate é necessário e a comunicação é primordial para desconstruir as narrativas que estão por trás do preconceito.
“O racismo é estrutural e a comunicação tem papel histórico central, tanto na sua produção quanto na sua desconstrução. Para isso, entre outras coisas, é preciso que pessoas negras ocupem espaço, como produtores de narrativas, nos diferentes veículos de comunicação”, afirma Neusa Baptista.
O racismo por trás das palavras – 10 expressões cheias de preconceito 1t2z4f
Ações para combater o racismo devem incluir também a mudança na linguagem que usamos no nosso cotidiano. Algumas expressões comuns em diferentes regiões do Brasil podem até parecer “simples brincadeiras”, mas são ofensivas. Muitas pessoas reproduzem essas palavras sem saber seus reais significados, contribuindo, mesmo que sem intenção, para a manutenção do racismo no país.
Eliminar o preconceito do vocabulário é um grande desafio. Para trazer informações e fazer com que o cidadão reflita sobre sua forma de se comunicar, o Governo do Distrito Federal (GDF) e o Ministério Público do DF lançaram em 2020 uma cartilha. Em mais de 30 páginas, a publicação traz exemplos da linguagem racista que se perpetuou ao longo da nossa história.
Abaixo estão 10 das expressões citadas na cartilha do GDF e como podemos substitui-las:
1- A coisa tá preta 3l321v
Expressão considerada racista que reflete a associação entre “preto” e aspectos negativos.
Substituição: situação desconfortável, desagradável, difícil, perigosa
2 – Samba do crioulo doido o733m
Foi título de um samba que ironizava a obrigatoriedade de as escolas de samba retratarem fatos do país nos tempos da ditadura. Entretanto, a expressão racista reafirma um estereótipo negativo aos negros.
Substituição: confusão
3 – Negra(o) de traços finos/ beleza exótica/ negra(o) bonita 3s6w45
A mesma lógica do clareamento, tratando o que está fora da estética eurocêntrica como incomum, ou a beleza mais próxima a essa estética como ideal.
Substituição: bonita (o).
4 – Cabelo ruim/ duro/ pixaim/ cabelo de palha de aço 45d25
Termos depreciativos ao cabelo afro.
Substituição: cabelo afro, crespo, cacheado.
5 – Disputar a nêga 664f3k
Possui sua origem não só na escravização, como também na misoginia e no estupro. Quando os “senhores” jogavam algum esporte ou jogo, o prêmio era uma escravizada negra.
Substituição: desempatar.
6 – Não sou tuas negas 216c1g
Faz referência às escravizadas que eram propriedade dos “senhores” e, por isso, lhes era permitido fazer qualquer coisa com elas.
Substituição: Me respeite!
7 – Preto de alma branca 3a3s5x
Tentativa de elogiar uma pessoa preta fazendo referência à dignidade dela como algo pertencente apenas às pessoas brancas.
Substituição: boa pessoa.
8 – Mercado negro/magia negra/ lista negra/humor negro/ovelha negra 5h594y
Utilização da palavra “negra/o” como algo pejorativo, prejudicial, ilegal.
Substituição: mercado clandestino, lista proibida, humor ácido, rebeldia.
9 – Inveja branca 20o6c
Ideia do branco como algo positivo, associando o preto a comportamentos negativos.
Substituição: inveja é inveja, troque por um elogio.
10 – Feito nas coxas 5n47z
Antigamente as telhas das casas eram moldadas nas coxas dos escravizados e, como eles tinham corpos diferentes, as telhas não ficavam no mesmo formato. Por isso, estariam malfeitas por ficarem irregulares e mal encaixadas.
Substituição: mal-feito.
Comentários (1) 1my5l
Se “ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele…”, como diria Nelson Mandela, logo, esse comportamento é ensinado de alguma maneira ao longo da vida.