Machismo recreativo e a raiz do redpill: o que a ‘piada de tiozão’ esconde 1t2h5r
Um comentário absolutamente asqueroso feito na minha rede social, me deixou tão enjoada quanto apreensiva – um homem capaz de dizer tamanho absurdo, é capaz de quê? 5515g
Você já deve ter ouvido falar de machismo recreativo, mas com a alcunha de “piada de tiozão”. É o absurdo dito entre risos numa roda de homens, depreciando a mulher em tom de brincadeira. Muito além da idiotice e do desperdício de latim, esses comentários maldosos, quando direcionados a uma mulher, são justamente para chocá-la pela força. Quando isso acontece, há uma crueldade muito específica, cuja punição se perde na piada e jamais chega ao remetente.

Um homem de meia-idade fez um comentário horroroso em um vídeo meu defendendo mães-solo, no tiktok. Para não repetir tamanho absurdo (porque apesar de combativa, eu sou uma dama) vou resumir: ele disse que há uma diferença entre filhos legítimos e ilegítimos, filhos feitos com a esposa são escolha, os “outros” são apenas desperdício de, digamos, fluidos corporais com “mulheres desconhecidas”. Fiquei TÃO enojada que precisei reunir toda minha indignação para gravar uma bela resposta (que, se você tiver estômago, pode assistir no final desse texto).
No mesmo comentário, ele disse que só considerava como seus filhos os paridos pela esposa. O detalhe é que esse homem, capaz de falar uma coisa tão baixa e odiosa, é pai de uma menina. Pela segurança dela, apaguei o comentário em que ele citava seu nome. Fiquei apreensiva pensando no ambiente doméstico opressor em que essa menina vai crescer, a liberdade que será tolhida, a juventude com sabor de velhice, os amores que ela será proibida de viver. E se essa moça engravidar? Vai ser posta para fora de casa? Vai apanhar? Qual será o destino dessa garota a quem não posso ajudar?
O que me intriga é, como pode um homem se achar tão cheio de razão a ponto de fazer um comentário desses e pensar que será bem aceito, num ambiente público de rede social, a ponto de se sentir tão seguro? Que certeza ele tem de que a misoginia absurda contida nessa fala poderia ser considerada aceitável? Uma brincadeira? Uma piada de tiozão?
Separar mulheres entre “para casar” e “para uma noite” é uma coisa tão absurda que pensei ter ficado nos tempos do meu avô, mas não. Hoje esse tipo particular de misoginia tem outro nome: “Red Pill”, uma corrente de homens que se autointitulam libertos da, ahm, “ditadura feminina”, do domínio de mulheres opressoras. Eles só aceitam moças consideradas de “alto valor” – jovens, de preferência virgens, com boa situação financeira, que aceitem cuidar deles e da casa como se fossem uma versão jovem da própria mãe. Sim, problemático em muitos níveis, eu sei. Como diria um grande professor, para dançar com os loucos você precisa fingir ouvir a música.
A primeira providência que tomei, ao responder o homem, foi printar todas as informações sobre ele e deixar na mão de uma amiga policial. O machista afrontado tende a ser violento: grita, sapateia, bate, manda matar, faz o que for para curar seu (gigantesco) ego ferido. Assustador que eu precise me proteger desse jeito para proteger outras mulheres, não">♬ som original – Jaqueline Naujorks