Seu José vende pequi no Centro de Cuiabá há quase 30 anos 73b1u

O idoso chegou a Mato Grosso na década de 70. Na temporada de pequi, é comum encontrar José Aparecido descascando pequis no Centro 4n1549

José Aparecido Miranda, de 71 anos, tem um carrinho de frutas no calçadão às margens da avenida Getúlio Vargas, no Centro de Cuiabá. Em temporada de pequi, o fruto tradicional entre os cuiabanos ganha destaque nas vendas.

Durante o isolamento obrigatório contra covid-19 em Cuiabá e sem poder trabalhar, Seu José chegou a ter apenas R$ 7 para sustentar a família. O idoso de pele negra e barba grisalha lembra que quando deixou o calçadão no centro histórico tinha R$ 4 mil.

O dinheiro foi suficiente para arcar com as contas de casa e alimentação das netas durante dois meses de isolamento. 

idoso pequi cuiabá
José Aparecido contou que cuiabanos de antigamente faziam filas em busca de pequi. (Foto: Bruna Barbosa)

“As coisas [moradia e alimentos] estão muito caras e o dinheiro que tinha foi acabando. Se só tirar e não repor [o dinheiro], acaba mesmo. Precisei me virar e comecei a conseguir de novo a comida das duas meninas”, conta.

Para conseguir “se virar” e sustentar a família, Seu José começou a vender frutas e verduras no bairro Pedra 90, onde mora. Com muito trabalho, conseguiu comprar a própria casa. “Graças a Deus”, exclama, ao falar sobre a conquista. 

Com o avanço da vacinação contra covid-19 em Mato Grosso, que possibilitou a reabertura e funcionamento do comércio, Seu José pôde voltar a vender as frutas e verduras no Centro de Cuiabá.

“As crianças acordam cedinho pedindo pão e leite. Não podia vir para o Centro trabalhar, mas não ter [dinheiro para comprar alimento] dói. Quem ganha muito dinheiro pode ficar tranquilo em casa. O auxílio não era suficiente para nada”, lamenta. 

Tempo de pequi em Cuiabá  161j3q

Naquele dia, o idoso tirava caroços de pequi da casca enquanto observava o movimento do calçadão e relembrava a época em que as vendas dos comerciantes do centro histórico eram agitadas.

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Pequi é vendido por latas, que costumam custar, em média, R$ 12. (Foto: Bruna Barbosa)

“Hoje a população aumentou, mas o movimento [no Centro Histórico] acabou. As pessoas não compram mais por aqui, antes eu vendia muito, faziam fila para comprar pequis”, lembra. 

José Aparecido tenta encarar com bom humor quando os clientes perguntam os preços, pedem descontos ou reclamam do preço caro do pequi. O fruto é colocado em latas, que servem como “balança” para estabelecer o valor. Uma lata custa, em média, R$ 12.

“Esse pequi que vendo aqui é muito bom, mas quando chega a época, entre novembro e janeiro, mais pessoas vêm vender pequi também. Daí as vendas caem mais”, conta. 

Mas além do fruto que é tradicional na vida de muitos cuiabanos, milho, abacate, banana, manga, maracujá e limão estão entre os produtos que sustentam sua família há anos. Tudo de “ótima qualidade”, garante. 

Idoso quer vida mais tranquila c3d1l

Seu José começou a trabalhar com 16 anos em uma plantação de hortelã no Paraná, onde morava com os nove irmãos. Como era o mais velho, ele precisou começar a trabalhar cedo para ajudar no sustento da casa. 

Na temporada de pequi, é comum ver José Aparecido tirando o fruto da casca no calçadão

“Os mais velhos tinham que trabalhar duro, os mais novos conseguiram estudar. Quando era criança e morava na roça no Paraná já ei fome, mas depois que cresci isso acabou. Vou no rio pescar um peixe, compro uns ossinhos, uma mandioca”, conta. 

O vendedor de frutas e verduras chegou a Mato Grosso nos anos 70. Ele morou em Peixoto de Azevedo, a 691 km de Cuiabá, durante 15 anos. Nesse período, trabalhou em um garimpo. 

“Deu uma ‘quebrada’ e vim para Cuiabá, trabalhei dois dias de motorista de ônibus, mas vi que não era para mim. Comprei um carrinho [para vender os produtos] e comecei a trabalhar”, lembra. 

José Aparecido tem duas grandes esperanças: ganhar na loteria ou encontrar ouro em um garimpo. Ele conta que se uma dessas situações se concretizasse poderia deixar o trabalho duro debaixo do sol quente no Centro de Cuiabá, e ter tranquilidade em seus últimos anos de vida. 

“Só paro se isso acontecer. Ter 71 anos e trabalhar como eu trabalho não é para qualquer um”, afirma.

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