Capivara Criminal 3j5s2t

A linguagem que ajudou a condenar Jamilzinho no júri da década 5o3i5f

Da roupa de grife às falas sobre influência da família nos núcleos de poder, tudo que o agora condenado expôs teve efeito sobre o júri pela morte de Matheus Coutinho Xavier 152j6n

As mãos para trás de Jamil Name Filho toda vez que se levantava próximo dos agentes de segurança pareciam um sinal físico de resignação durante o júri no qual foi condenado como mandante do assassinato de Matheus Coutinho Xavier, no dia 20 de julho de 2023, depois de três dias de sessões no Tribunal do Júri em Campo Grande.

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De jaqueta puffer de marca famosa, Jamilzinho sorri durante júri em Campo Grande. (Foto: Gustavo Arakaki)

Ficou por aí. Durante as mais de 30 horas do julgamento, “Jamilzinho”, como é conhecido, foi consolidando a imagem de um vilão típico de filme de júri, analogia inescapável para o fato histórico ocorrido, a primeira responsabilização de um Name por crime de pistolagem. Parecia mesmo uma obra de ficção, com momentos de picos dramáticos. Mas era só realidade mesmo.

Essa personagem, para usar a linguagem das artes, já havia sido desenhada nas peças de acusação da operação Omertà, segundo as quais Jamil Name Filho e o pai, já falecido, eram os chefões de uma organização criminosa capaz de eliminar os desafetos ao custo de violência e propina a servidores públicos, para proteger negócios ilegais.

“Guri” ou “Bob”, outros apelidos de Jamil Name Filho, de 46 anos, é descrito nessas peças como alguém de comportamento agressivo. Tinha até um taco de beisebol enrolado com arame farpado, instrumento usado para ameaçar pessoas, conforme a investigação. O taco foi apreendido nas ações de campo da força-tarefa, em 27 de setembro de 2019.

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Taco de basebol com arame farpado que seria de Jamil Name Filho, segundo a Omertà.(Foto: reprodução de processo)

Neste link você pode acompanhar o tempo real do Primeira Página sobre o primeiro júri da Omertà.

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No interrogatório durante o júri, Jamilzinho negou ser mandante de qualquer morte. Disse não ter essa “maneira de agir”. Ao fim da votação dos jurados, a tese dos acusadores foi vencedora.

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Ao fim de três dias de júri, o réu deixa o plenário algemado para voltar a presídio. (Foto: Gustavo Arakaki)

A sentença, é claro, pode até cair nos tribunais superiores, onde a decisão é tomada pelos magistrados, mas é fato que o Tribunal do Júri, representação da sociedade na corte, por meio de sete jurados voluntários, leu de forma negativa o comportamento do homem que já foi um poderoso filho de família rica e anfitriã dos circuitos mais altos da sociedade.

Tudo comunica no júri 305j22

A Capivara Criminal conversou com uma dezena de operadores do Direito, inclusive pessoas que estavam no plenário, no papel de defesa e de acusação. A opinião praticamente unânime é de que o réu acusado de encomendar o crime de sangue dificultou ainda mais o trabalho dos seus patronos, com suas falas e expressão corporal.

Soberba foi a definição mais ouvida pela coluna para traduzir a atuação de Name Filho, no diálogo com essas fontes, sob reserva do nome. Uns porque não querem atritar com colegas de advocacia atuantes no caso, outros porque estão envolvidos diretamente na contenda judicial, prevista para durar um bom tempo ainda, diante dos recursos possíveis.

Confira alguns pontos do comportamento do réu indicados como negativos e capazes de criar antipatia e até repulsa nos jurados, corroborando com a tese acusatória.

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Jamilzinho está de tênis branco. Ao lado dele, o pé de Vladenilson, de chinelo. (Foto: Gustavo Arakaki)
  • Foi para o plenário vestido com roupas de grife, jaqueta puffer e tênis da marca Tommy Hilfiger, camiseta Calvin Klein e óculos Prada, demonstrando na vestimenta seu poder financeiro.
  • Levantou durante vários momentos dos três dias para dar instruções aos advogados, inclusive dos outros réus, os dois ex-funcionários da família Name, o ex-guarda Municipal Marcelo Rios, 46 anos, e o policial civil aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, 63 anos.
  • Oscilou expressões de tédio, chegando a fechar os olhos no plenário, ficando boa parte de cabeça baixa. Também apareceu sorrindo ao conversar com defensores e no depoimento de Marcelo Rios, encarou fixamente o ex-comandado por momentos longos.
  • Teve o que pareceu ser uma crise de choro, com direito a urro, e saída da sala acompanhado de policiais penais. Foi consolado por um dos advogados, o criminalista paulista Eugênio Malavasi.
  • No interrogatório, perguntou à mãe da vítima, a advogada Cristiane de Almeida Coutinho, como ela se chamava, mesmo tento sido formalmente apresentada minutos antes. Pediu “calma” à mãe que perdeu o filho com tiros de fuzil em mais de uma situação. Fez provocação falando de atividades do “seu ex-marido”, o pai do estudante morto por engano, o ex-capitão da Polícia Militar Paulo Roberto Teixeira Xavier, verdadeiro alvo da emboscada conforme a denúncia. A presença da mãe como assistente de acusação, de ultima hora, foi considerada decisiva para o convencimento do conselho de sentença.
  • Cristiane ouviu do réu que ele tem condições para que os filhos andem de veículo blindado. A mãe e assistente de acusação se revoltou com essa fala, lembrando como o filho foi morto, fuzilado dentro do veículo do pai.
  • amil Name Filho citou investimentos da família na área da agricultura e comentou que o filho está fazendo faculdade de Direito exatamente na mesma universidade onde estudava a vítima de execução por engano. Essa fala também foi rebatida pela mãe de Matheus, citando, bastante emocionada, que o filho não pôde se formar.
  • Se negou a falar o valor da dívida que teria sido o pivô da vingança contra o pai de Matheus. Disse ser assunto pessoal. A acusação revelou um valor de pelo menos R$ 30 milhões, de acordo com os dados dos autos, a partir do depoimento de uma testemunha.
  • Não quis responder sobre o critério de escolha de profissionais para a segurança e as tarefas do dia a dia da família. A pergunta veio da mãe de Matheus, que quis saber porque eram sempre policiais e guardas civis metropolitanos, com porte de arma e o a informações sigilosas.
  • Fez em vários momentos digressões sobre a rotina da família influente por muitos anos e o fato de sua casa ser frequentada por figurões locais, do Judiciário e da política.
  • Falou de uma viagem a um cassino em Punta del Leste, no Uruguai, quando ainda adolescente, citando um encontro do pai com Naji Nahas, o empresário famoso nos anos 1990, depois de ser acusado de quebrar a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Por esse fato, Nahas chegou a ficar preso.
  • Negou trabalhar com o jogo do bicho, ainda que existam ações derivadas da Omertà indicando que a família criou um escritório de pistolagem justamente para proteger as atividades nos jogos de azar, como era de conhecimento público. Numa das fases da operação Omertà, as bancas que sempre ocuparam calçadas na cidade foram retiradas das ruas, mudando inclusive a paisagem urbana.
  • Sobre a frase mais célebre captada pelas interceptações da Omertà, em que “Jamilzinho” diz que a “matilha é minha” e ainda fala em “sair a maior matança de MS, de picolezeiro a governador”, o réu atribuiu a um remédio para transtornos psiquiátricos, que segundo ele, estaria misturando com bebida alcóolica.
  • No fim da sua oitiva, ao tentar ganhar a empatia dos jurados falando da morte por covid do pai, Jamil Name, aos 82 anos, referiu-se à internação em UPA (Unidade de Pronto Atendimento) com desdém. Foi lembrado à coluna por mais de um entrevistado desta edição que essa é a única opção disponível de o à saúde para a maioria expressiva da população, ali simbolizada nos jurados.
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Jamil Name Filho e na tela a exibição de frase famosa na Omertà. “De picolezeiro a governador”

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A banca de advogados escolhida para defesa técnica de Jamilzinho também cometeu um ato falho que fez o público presente no auditório se manifestar, a despeito do pedido de silêncio no tribunal.

Eugênio Malavasi, criminalista dedicado a esse tipo de atuação, dirigiu-se ao time de jurados, cinco homens e duas mulheres, como “mato-grossenses”. A plateia completou imediatamente com o “Do Sul”.

Com jurados locais, decidindo sobre um crime com alto impacto na sociedade, opinam os entrevistados na coluna, esse é um detalhe que não poderia ter ado.

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Name Filho conversa com os advogados de defesa. (Foto: Gustavo Arakaki)

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Para Malavasi e Nefi Cordeiro, ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), o carimbo de culpado pela execução de Matheus com fuzil AK 47 dado a Jamil Name Filho foi injusto.

Ambos defendem não haver provas de que o cliente mandou matar o pai de Matheus Coutinho Xavier em nome de uma desavença a cerca da transação milionária envolvendo duas propriedades rurais.

Eles anunciaram no plenário a intenção de apelar do resultado. Os outros defensores disseram a mesma coisa. Como já foi antecipada a fase de informação sobre recurso, que normalmente leva cinco dias, agora o processo vai para o TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), para análise da 2ª Câmara Criminal, onde tramitam os processos da Omertà em 2º grau.

Depois de intimados, os defensores terão oito dias para apresentar as razões recursais e os pedidos. A promotoria informou ao juiz que também vai apelar da sentença.

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Como têm outras condenações, os réus já estavam presos e vão seguir. O período vai ser descontado da pena a ser cumprida.

Jamil Name Filho e Marcelo Rios foram levados de volta para a penitenciária federal de segurança máxima de Mossoró (RN), neste sábado. Vladenilson Olmedo segue cumprindo pena em Campo Grande, no complexo da Gameleira.

Jamil Name Filho volta para Mossoró após ser julgado e condenado por homicídio em Campo Grande
Jamil Name Filho, de camiseta branca e jeans, é levado de volta para Mossoró. (Foto: Magno Lemes)

Este conteúdo reflete, apenas, a opinião do colunista Capivara Criminal, e não configura o pensamento editorial do Primeira Página.

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