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O primeiro sucesso do carnaval brasileiro foi escrito por uma mulher que adotou o próprio marido 4m262f

Um dos nomes mais importantes pra história da música brasileira compôs aos 52 anos um sucesso do carnaval que revolucionou o papel da música na maior manifestação cultural brasileira. e6c1l

Já te explico sobre essa história de adotar o próprio marido. Antes, preciso te contextualizar para que não haja julgamentos precipitados.

O ano era 1899. A escravidão havia sido abolida há somente 11 anos. 

Esse lance de ter casal formado por um adolescente (ou até criança) e um adulto era bastante comum. Era praticamente um padrão da época. Um homem de 35 e uma mulher de 16, com a benção dos pais. Normal. 

Só não era normal o contrário: uma mulher mais velha e um homem mais novo. Nisso, a nossa compositora também teve a ousadia de ser pioneira. 

Adotar o marido foi coisa pouca perto de tudo o que ela fez 3u4v68

Ela tinha 52 anos e ele 16. Pra não gerar um escândalo na sociedade carioca, ela adotou o menino, de papel ado, e apresentava ele pra todo mundo como filho dela. A certidão de óbito dele traz o nome dela como mãe: Chiquinha Gonzaga.

Chiquinha Gonzaga com 85 anos, dois anos antes de morrer
Chiquinha Gonzaga com 85 anos, dois anos antes de morrer

Essa mulher usava o dinheiro que ganhava na música pra comprar a liberdade de escravizados. Ela era neta de escravizados. O pai, um major do exército imperial brasileiro e a mãe era filha de Tomásia, uma escravizada.

O pai major a obrigou a se casar com 16 anos com um cara rico de uma família conhecida. Esse cara não gostava que ele mexesse com música. Depois de dois anos ela decidiu se separar, já com três filhos nos braços.

Foi processada por abandono de lar e adultério e perdeu a guarda de dois filhos. Depois casou-de novo e descobriu que tava sendo traída.

Quando as composições dela começaram a fazer sucesso, as família dos ex-maridos ficavam indo atrás das partituras pra rasgar e não deixar ninguém comprar.

Vencida essa fase, Chiquinha Gonzaga começou a compor trilhas pra peças de teatro. Foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil.

Mais de 70 peças teatrais usavam composições dela e nem sempre pagavam por isso.

Foi quando ela se tornou a primeira pessoa no Brasil a lutar pelos direitos autorais dos compositores. Fundou a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Só tinha ela de mulher.

Sociedade brasileira de autores teatrais
Sociedade brasileira de autores teatrais

Chiquinha Gonzaga foi também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. A primeira Maestra do Brasil.

Depois de ter ado por tudo isso, com mais de 50 anos, ela conheceu o menino português João Baptista Fernandes Lage, que tinha 16. Foi nessa fase que ela compôs o primeiro sucesso do carnaval brasileiro.

O primeiro sucesso do carnaval brasileiro 44w4r

O sucesso do carnaval que estamos falando foi uma encomenda do cordão carnavalesco “Rosa de Ouro”, do Rio de Janeiro, pro carnaval de 1899.

Chiquinha Gonzaga nessa época morava no bairro do Andaraí, no Rio, é já era bastante conhecida como compositora. 

Na época os cordões desfilavam n a rua, mas não tinham uma identidade musical, todos avam com o mesmo som de percussão e gritando alguns versos.

A partir dessa composição de Chiquinha Gonzaga a música ou a ser indispensável no carnaval.

O cordão “Rosa de Ouro” ganhou o carnaval 1899 e a marchinha composta por Chiquinha Gonzaga nunca mais seria esquecido pelos carnavalescos brasileiros:

“Ô abre alas que eu quero ar
Peço licença pra poder desabafar
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim
A jardineira abandonou o meu jardim
Só porque a rosa resolveu gostar de mim”

Hoje “Ô Abre Alas” já está em domínio público. Isso significa que não é mais preciso recolher direitos autorais por essa obra. Todos podem usar sem precisar pagar. 

Na carta testamento, 15 anos antes de morrer, Chiquinha finalizou escrevendo:

“Com minha triste vida de trabalho e injustiça, Adeus”.

E pediu pra escrever na lápide: “Sofri e chorei”.

Chiquinha Gonzaga morreu no Rio de Janeiro em 1935, mas o legado que ela deixou de luta, de talento e representatividade vai muito além dos carnavais.

Ouça “Ô Abre Alas”:

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