Subnotificação esconde realidade dos homicídios em MS, diz Ipea 3f2370
Em Mato Grosso do Sul, total de assassinatos em 2022, último ano estudado, seria 16% maior do que registrado nos dados oficiais, segundo o "Atlas da Violência" 3t3i6q
Estudo divulgado nesta terça-feira (18) pelo Ipea (Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada) conclui que o quadro real das mortes violentas é mais grave do que o registrado pelas autoridades brasileiras. Consta do “Atlas da Violência 2024” o dado de que, no ano de 2022, enquanto foram computados pelos registros oficiais 550 homicídios em Mato Grosso do Sul, houve pelo menos mais 90 casos, definidos como ocultos pela pesquisa, fixada entre as mais respeitadas na área da segurança pública.

Comparando os dados, o número de homicídios ignorados pelas estatísticas oficiais significaria um aumento de 16% no total, considerando as conclusões do levantamento do Ipea. Essa diferença reflete diretamente na taxa de homicídios por 100 mil habitantes, um dos principais medidores de violência.
Resultados de MS em 2022 2q5m2f
- Segundo registros oficiais: 17,1 mortes a cada 100 mil habitantes
- Com homicídios ocultos: 22,9 mortes e cada 100 mil habitantes
Metade a mais em Dourados 1k1y3p
Dourados, a segunda maior cidade sul-mato-grossense, com 240 mil habitantes, chama a atenção no “Atlas da Violência” porque o número de homicídios, contados aqueles considerados ocultos, seria 50% maior.
Para o ano de 2022, traz o documento, o registro oficial é de 46 assassinatos. A subnotificação, conforme apontado, é de 23 ocorrências. O total, então, seria de 69.
Com isso, a taxa real de homicídios douradense levantada pela pesquisa para 2022 foi de 28,4 mortes violentas a cada cem mil habitantes.
É um índice superior ao estadual, já citado acima neste texto, e também à média nacional, fixada em 24,5 assassinatos por cem mil habitantes, levando em conta os homicídios estimados.
Entenda o cálculo 391z52
O relatório da pesquisa indica que, no Brasil, entre 2012 e 2022, “131.562 pessoas morreram de morte violenta sem que o Estado conseguisse identificar a causa básica do óbito, se decorrente de acidentes, suicídios ou homicídios. São as chamadas MVCI (Mortes Violentas por Causa Indeterminada).
“Tendo em vista que parcela dessas MVCI são, na realidade, homicídios que ficaram ocultos nas estatísticas, as análises sobre prevalência da violência letal ficam prejudicadas, ainda mais que tal situação não ocorre de maneira aleatória, mas concentrada em um conjunto de UFs”.
Atlas da Violência
Para contornar esse vácuo, explica o relatório, pesquisadores estimaram a parcela de homicídios ocultos dentre o conjunto de MVCI.
“Os autores utilizaram uma metodologia baseada em modelos de aprendizado supervisionado (machine learning), em que o padrão probabilístico de características pessoais e situacionais para cada tipo de evento (se homicídio, suicídio ou acidente) foi aprendido a partir do uso intensivo de dados”
A análise baseou-se nos microdados de óbitos por causas não naturais (ou violentas) ocorridas no Brasil desde 1996.
Dados nacionais e regionais 5rw20
Como descrito no “Atlas da Violência”, no período compreendido entre 2012 e 2012, o número de homicídios ocultos foi igual a 51.726 no Brasil. “Portanto, consideramos que, nesse período, ao invés ter ocorrido 609.697, houve, na realidade, 661.423 homicídios no país”, anota o texto explicando os resultados.
Equivale dizer que, na década estudada, o número de homicídios ocultos foi maior do que todos aqueles registros do último ano analisado.
Na realidade sul-mato-grossense, a contagem de homicídios oficializados, de 2012 a 2022, é de 6.632. Se somados os casos ocultos, na metodologia usada pelo Ipea, esse total aumenta para 7.127. São 495 mortes violentas a mais.
Ao descrever a situação de Mato Grosso do Sul, o relatório do “Atlas da Violência 2024” retrata taxas abaixo das do vizinho Mato Grosso. Mas pontua o crescimento nos últimos anos pesquisados.
“Os municípios do Mato Grosso do Sul, em geral, apresentaram taxas bem menores do que seu estado vizinho ao norte. No entanto, 2022 foi o terceiro ano seguido de crescimento da taxa estadual.”
Atlas da Violência
Depois de redução nos números, de 683 homicídios em 2012, para 491 em 2019 e 2020, nos anos seguintes, houve alta, com 551 e 550 mortes violentas registradas em solo sul-mato-grossense.
Leia mais 436e28
Ao analisar as causas de recrudescimento da violência letal, o estudo aponta a intervenção sangrenta das facções criminosas. Relembra, também, a posição geográfica estratégica de Mato Grosso do Sul para o crime.
“Ponta Porã (33,7), o município limítrofe à cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero, tem uma posição estratégica como entreposto do narcotráfico internacional de drogas. Também no sul do estado, mas no interior, encontra-se o município de Dourados. O predomínio da violência vem novamente das disputas entre PCC e CV pelo controle do tráfico de drogas na região de fronteira, ainda que outros grupos criminosos já atuem no estado, sobretudo nos presídios.”
O estudo completo está aqui