Tolerância cultural mantém jogo do bicho solto em Campo Grande 6d28x

Para quem atua na segurança pública o jogo do bicho está enraizado em grupos criminosos e vai muito além das apostas; envolve coação, violência e até homicídios 2w4ua

Apesar de ser ilegal no Brasil, o jogo do bicho segue solto pelas ruas de Campo Grande. Isso tem uma explicação; o costume e a tolerância social. Nesta segunda-feira (23) nossa equipe rodou a cidade e encontrou com facilidade as bancas que fazem as apostas, seja no papel ou na maquininha.

? Ouça abaixo reportagem da Morena FM: 6e5x72

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Jogo do bicho feito no papel (Foto: TV Morena)

Na Vila Morumbi as apostas podem ser feitas a qualquer hora do dia.

– Bom dia, tá fazendo?
– Oi?
– Tá fazendo o bicho?
– Faço
– Tem valor mínimo?
– De R$ 1 para cima

No Centro, os sorteios são feitos em apenas dois horários.

– Bom dia. Tem Bicho?
– Tem!
– Pode ser R$ 1?
– Pode! O que você quiser jogar
– O da maquininha o senhor não tem?
– Não

Os flagrantes são fáceis de fazer porque apesar da luta constante contra esse tipo de jogo na capital – que se intensificaram nos últimos anos com a Operação Omertà – na sociedade impera a “lei do costume”. É o que explica a professora de sociologia Carolina Grillo, que estuda as relações do jogo do bicho com o tráfico e as milícias do Rio de Janeiro há vários anos.

“Eles fazem parte do costume de certos grupos populares que tem o hábito de apostar no jogo do bicho, de apostar no caça-níquel, de apostar no bingo. Esses jogos possuem um apelo popular muito grande, são muito populares entre a população, com uma tolerância muito ampla. Portanto há uma demanda de mercado”.

Mas na legislação brasileira realizar ou explorar esse tipo de aposta é considerado uma contravenção penal, uma infração de baixa gravidade que tem pena de quatro meses a um no de prisão, mais multa.

Para quem atua na segurança pública o jogo do bicho está enraizado em grupos criminosos e vai muito além das apostas; envolve coação, violência e até homicídios.

É o que comprovou a força-tarefa da Omertà, que em 2019 derrubou os donos do jogo do bicho em Campo Grande depois de mais de uma década de comando; a família Name.

A Jamil Name e Jamil Name Filho foram vinculados também a quatro execuções violentas na capital, a corrupção de agentes públicos e até o tráfico de armas.

“A exploração ilegal do jogo do bicho fomenta prática de outros crimes graves, como corrupção, extorsão, lavagem de dinheiro e homicídios, até mesmo para garantir o próprio financiamento do ilícito”, escreveu os promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial De Repressão ao Crime Organizado) na época da investigação.

É a mesma forma de agir dos grupos criminosos do Rio de Janeiro, como explica a pesquisadora da Universidade Federal Fluminense.

“O desmantelamento de um grupo que detêm o monopólio dos pontos de jogos de azar numa determinada região acaba propiciando as disputas violentas por controle desses pontos, a medida que existe uma demanda de mercado, existe uma tolerância social muito grande a esses jogos e uma cultura de aposta em que esse jogo do bicho e outras formas de aposta ilegais são muito populares. Esses pontos de apostas acabam sendo disputados por outros grupos especializados que vão querer assumir o lugar desse grupo que foi desarticulado”.

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Banca do jogo do bicho no centro de Campo Grande (Foto: TV Morena)

Sob nova direção? l5hc

Desde a semana ada, mais um grupo criminoso que tenta ampliar o bicho em Campo Grande é investigado pelo Garras (Delegacia Especializada Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros).

Tudo começou com a apreensão de 700 máquinas do mesmo tipo das que são usadas para apostas no jogo do bicho.

A apreensão ocorreu na segunda-feira ada (16 de outubro), em imóvel no bairro Monte Castelo. Conforme o que foi divulgado, a especializada estava investigando um roubo e acabou chegando até o “QG” da jogatina.

Nove pessoas estavam na casa, entre elas o major reformado Gilberto Luiz dos Santos, apelidado de G. Santos, que é nomeado na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, no gabinete do deputado estadual Neno Razuk.

Os equipamentos apreendidos parecem com os usados para ar cartão de crédito, mas em vez do boleto com o valor da compra, o imprimido é uma pule, nome dado a apostas do jogo do bicho.

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